Recente estudo divulgado pela Social@Ogilvy demonstra como o Facebook tem, deliberadamente derrubado a audiência das páginas, para “forçar” que sua administração pague pela visualização daqueles que já a curtiram.
O estudo focou 100 páginas que tiveram seus alcances orgânicos (aqueles que não são pagos) diminuídos em 94% do que era antes de janeiro. Para as páginas maiores, com mais de 500 mil likes, os números apontam para uma queda de 98% do alcance anterior.
Há influência também, em nível menor, nas publicações dos perfis pessoais, mas que já estão sendo sentidas e comentadas na própria rede social. Ainda não há estatísticas e estudos sobre os perfis individuais, mas pelo que se tem sentido, já é possível projetar um pouco o futuro.
A questão aqui não é discutir se Zuckerberg tem direito ou não de fazer isto. A discussão passa longe do direito do proprietário sobre a sua propriedade, mesmo sendo ela de interesse público. Mas, qual o impacto desta mudança na relação que as pessoas tem com a rede? Consequentemente, qual é o impacto econômico que a mudança desta relação causa ao Facebook?
Lembremos o motivo do sucesso do Facebook
Até 2006, o Facebook era apenas uma rede social interna de estudantes de Harvard. Naquele ano a rede foi aberta para a participação de outras pessoas, e de lá para cá, mais de um bilhão de pessoas aderiram à rede. Todos os dias são dez bilhões de mensagens enviadas entre os usuários, mais de 350 milhões de fotos são publicadas, e milhões e milhões de textos opinativos são publicados sem cessar um só segundo. São números muito maiores que os números das redes sociais concorrentes. E porquê?
O (finado?) Orkut, tinha como centro de suas atividade as comunidades, que tendo por assunto uma personalidade ou uma ideia, daí decorriam suas discussões. Ou seja, o centro era a própria discussão, a opinião de cada indivíduo sobre o assunto em discussão. No Facebook é o exato oposto, e as estatísticas mostram que as pessoas passam a maior parte do tempo lendo e publicando em sua própria linha do tempo, deixando aos grupos um pequeníssimo tempo de interação. O centro é o indivíduo, a opinião do indivíduo, a vida do indivíduo, as relações sociais do indivíduo. E assim, o cidadão comum, que não tem posses ou fama, de repente vê-se com seguidores, que compartilham suas opiniões, comentam-nas, discordam, referenciam-se nelas em outras discussões.
Aqueles que advogam uma ideia, ou uma causa, e não tinham poder de voz, e nem dinheiro para pagar anúncios na televisão ou rádio, passaram a falar para um público muito mais amplo que o seu círculo de amigos próximos, através de páginas e perfis pessoais muito seguidos. Para as gerações mais jovens, poder falar e ser ouvido é um desejo e um sonho. Infelizmente, o Twitter não pode dar vazão a este desejo, pois há algumas ideias que não cabem em 140 caracteres.
Quem está disposto a pagar?
Com uma pequena pesquisa, é possível constatar o imenso número e variedade de causas que possuem página no Facebook. Desde projetos para salvar animais em extinção, até páginas que são contra a construção de mais prédios em grandes cidades. Desde movimentos sociais que reivindicam moradia popular aos governos, até páginas pela mínima intervenção do Estado na economia. Páginas pela volta da ditadura militar, páginas defensoras dos direitos humanos. Todas estas páginas destinam-se a propagar ideias e arregimentar adeptos através das redes sociais, e a maioria delas não tem dinheiro, ou não pagaria, para vê-las ampliadas no Facebook.
O foco de Zuckerberg, com essa mudança na política de visualização, é que se pague cada vez mais para falar com muitos. E quem paga para ser visto e lembrado, é quem investe em publicidade, ou seja, corporações, empresas, fabricantes de produtos, e não indivíduos comuns. Esta conta não fecha!
Onde Zuckerberg pensa estar o pote de ouro no fim do arco-íris, pode encontrar apenas o fim do ouro dentro do pote
A publicidade busca circular onde circulam as pessoas, que são vistas como potenciais consumidores. Não há quem coloque um outdoor no deserto inabitado, ou quem pague para anunciar em um pequeno blog cuja a audiência é a família do blogger. Dito mais diretamente, se hoje o Facebook conta com um imenso número de anunciantes, e corporações dispostas a pagar caro para ver sua marca circulando, é exatamente pelo imenso tráfego de pessoas comuns que não tem dinheiro (ou não pagariam) para publicar a foto do seu cachorrinho ou da praia em que esteve no último final de semana. As pessoas não estão no Facebook para comprar, mas para interagir.
Ao publicar as fotos de seu dia-a-dia, ou expressar suas opiniões sobre futebol, política, religião (e tudo mais o que não se discute), as pessoas esperam a interação de seus amigos, seja através de comentários, curtidas, ou compartilhamentos. Ao passo que isso diminua, como tem diminuído sensivelmente, a tendência é que as pessoas estranhem e busquem alcançar esta interação de outra forma. Assim, não publicarão a foto do cachorrinho no Facebook, e sim no Instagram, que mostra a foto para todos os que os seguem, e assim por diante. Ou até que surja uma outra rede social que cumpra o papel que hoje cumpre o Facebook.
Com a diminuição do tráfego, a tendência é que a publicidade de empresas e corporações não queiram mais pagar o que pagavam antes, ou simplesmente deixem de anunciar no Facebook, passando a anunciar mais no Youtube, ou no Google. Afinal, os empresários e acionistas das grandes empresas não são conhecidos por sua fidelidade, mas por uma busca incessante de resultados. E a conta continua sem fechar.
“Abra uma conta. É gratuito e sempre será!”
O Facebook faz publicidade com a frase acima na busca por novos adeptos. Mas do que vale um perfil gratuito se tenho que pagar para ser visto por todos os meus amigos? Esta é uma pergunta que qualquer pessoa, que consiga somar dois mais dois, fará.
Se quem paga fala para todos e quem não paga fala para cem, ou cento e cinquenta pessoas, qual a diferença do Facebook para as demais ferramentas de comunicação interativa? Esta é outra pergunta que não cala. Eu sigo achando que a conta não fecha, e que antes do que se pensa Zuckerberg terá que voltar atrás, ou ver algum concorrente passar-lhe à frente.
Fonte: Social Ogilvy
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