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O Que Podemos Aprender Com A (Não) Depilação De Nanda Costa


Uma mulher, uma buceta, muitos pelos – receita infalível para uma polêmica. Num mundo onde a Barbie, com toda a sua loirice e lisura chatíssimas, é cultuada como ideal de beleza, já era de se esperar tanto alarde ao redor da depilação íntima de Nanda Costa, atriz global que foi capa da edição do 38º aniversário da revista masculina Playboy. O que não era de se esperar – e jamais será – é a radicalidade com que alguns vêm tratando o assunto.
Não sei se já contei pra vocês, mas desconfio seriamente de que eu tenha uma veiazinha masoquista sempre que me proponho a ler os comentários dos internautas em matérias de grandes portais de notícia. Eu sei que não vou encontrar nada além de intolerância, preconceito, racismo e misoginia, mas é quase impossível conter o impulso de deslizar o cursor do mouse até o final da página e checar ~a voz de Deus~. Dessa vez, para a minha tristeza ou para a alegria da minha porção masô, não foi diferente. Gente falando que foi muita grana paga para pouco conteúdo. Que pelos já eram. Que precisa depilar, Nandinha. Que pelos são nojentos.
Você pode não gostar de pelos, assim como eu não gosto – volto a explicar meu posicionamento nos próximos parágrafos. Mas peraí. Pelos são nojentos? Nojenta mesmo é a sua visão de mundo – como se não bastasse nos oprimir ao padronizar os nossos cabelos de cima, vocês agora querem padronizar os de baixo também? \Mulheres têm pelos, têm chulé, transpiram, menstruam e soltam pum. São humanas, sobretudo. Mas foram ensinadas a controlar esses vestígios de humanidade – afinal, eles jogam contra a feminilidade. Onde já se viu uma mulher com pelos? Pelo é símbolo de virilidade. Mulher que não se depila é, acima de tudo, descuidada. E é aí que Nanda Costa vem, com um corpo impecável, para nos dar um memorável tapa na cara. Vem para esfregar a buceta cabeluda no nojinho de toda a sociedade. Vem rebolar sem calcinha na cara da indústria da beleza.
Fotografia por Bob Wolfenson
Um belo ensaio, uma bela mulher, um belo silicone, com um belo Photoshop e com belos… pelos. Nanda Costa é bonita, independente do grau de devastação da Mata Atlântica que ela carrega consigo. Você, mulher, é bonita, independente de quantas celulites povoem a sua perna. Eu sou uma mulher naturalmente peluda – e poderia ser bonita assim. Mas absorvi o discurso de pureza feminino e hoje sou escrava de ceras, banhos de lua e sessões de laser. Se eu não tenho coragem nem de olhar para o meu corpo quando os meus poros revelam alguns pelinhos, que diria posar na Playboy da maneira como a Nanda fez. Mas em vez de achar feio, nojento ou indigno, eu achei lindo. Invejável. Isso porque parto do pressuposto básico de que a diferença é sempre agregadora, e que cada um tem a plena liberdade para fazer o que bem entender com o próprio corpo. Se eu não tenho colhões – e nem mais possibilidade, depois que aderi ao ~tão sonhado~ laser – para ostentar os meus pelos, que bom que há alguém que faça isso por mim.
E se os acusadores de Nanda Costa são cruéis, os defensores também não o deixam de ser. Maravilhoso seria se o argumento deles fosse o direito de escolha da atriz – o corpo é dela, ela faz o que bem entender com ele. Mas não. Os supostos machões se apoiam no argumento de que buceta é buceta, com ou sem pelo, e quem desiste de ~comer~ uma mulher por causa da depilação é ~viadinho~, no sentido mais pejorativo da palavra. Mais uma vez, o machismo abrindo suas asas fedorentas sobre nós – afinal, para homem que é homem, basta ter um dente na boca que já tá valendo, não é mesmo? Direito de escolha novamente se contorce no caixão.
Por isso, aqui vai o meu agradecimento à Nanda Costa. Por ter levantado o debate desse assunto tão pentelho, como ela mesma disse no Twitter. Por ter revelado uma naturalidade que eu não teria a menor coragem de sustentar. Enfim, por ter nos agraciado com tamanha beleza. Estratégia de marketing para vender mais revista? Provavelmente. Mas que se dane. Comigo funcionou.
Fotos por Bob Wolfenson para a revista Playboy.
Para ver o ensaio completo, clique aqui.

Fonte original:Casal sem vergonha
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